quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Interesse público, cerceamento e vida privada

No dia 4 de setembro de 2011, durante o 4º Congresso Extraordinário do Partido dos Trabalhadores (PT) foi apresentado o marco regulatório dos meios de comunicação. Apesar de o ex-presidente Lula confirmar o não-interesse pelo cerceamento da liberdade de imprensa, a medida reacendeu a crítica da oposição. Dentre elas, estava a do senador pernambucano, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), afirmando que a imposição de regras para a imprensa visa impedir os jornalistas de exercer seu papel democrático de fiscalizar, denunciar e defender os interesses da sociedade.

A medida permite-nos refletir a respeito do que podemos esperar da comunicação propriamente dita. O exemplo traz à luz uma das questões pautadas pelos estudos acadêmicos e veículos que buscam analisar os fenômenos comunicacionais dos dias de hoje. O que a caracteriza e como ela é eficaz, uma vez que se faz presente nos ambientes físicos, nas mídias sociais, na política por meio de gramáticas multissensoriais?

Em linhas gerais, a comunicação é um processo de cognição entre os seres, mediada por um canal. Porém, essa característica se esfarela se supusermos que a contemporaneidade trouxe um desafio maior. A insurreição de uma "contra-imprensa", que espalha pelos microblogs mensagens falsas, vem gerando o seguinte questionamento: se os mediadores de informação perderam a noção de ética jornalística, como estabelecer um canal que não transmita ruídos? A cada estrela morta em 140 caracteres, podemos repensar no dia do lançamento do romance distópico de George Orwells, "A guerra dos mundos", e refletir o quanto somos suscetíveis aos desmandos do gatekeeper.

Trabalhar com comunicação é pressupor a construção da cidadania por meio da difusão da informação. Mesmo que fique óbvio que corpos e mentes beirem cada vez mais a ansiedade doentil da era digital, o processo jornalístico ainda se salva, valorizando a tradição da apuração das minúcias a qualquer custo. Mas, assim abandonamos a hipócrita legitimação pela objetividade: o interesse público a frente do entretenimento banal, fornecendo informação válida, buscando compreender nossas dinâmicas cotidianas de convivência e aceitação.

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