domingo, 26 de julho de 2009

Lar é onde o seu coração está

Acho que não havia reparado quando o vizinho colocou aquele som que eu odiei durante tantos anos, alto, estourando a caixa de som no último volume do apartamento acima do nosso. Aquele era o momento em que minha cabeça esvaziou e tudo que eu escutava dentro era uma voz dentro de mim gritando: “É hora de partir, deixe-os para trás junto as boas lembranças que você guardou em cada canto desse lugar conhecido que você quis chamar de lar.”

Definitivamente, não era assim que meus sonhos pré-adolescentes me mostravam como seria abandonar a moradia confortável dos meus pais. Com os olhos encharcados, dei meus últimos passos até a porta, encarei bem fundo os olhos da minha mãe, que de um lado, tombando de emoção, segurava minha bolsa de mão e de outro, um porta retrato com sua foto favorita de quando eu ainda era um nanico com idéias metidas à besta.
Foi quase no momento em que subia para o ônibus para bem longe da minha pequena cidade pacata, onde cresci e vivenciei aquilo que costumava chamar de “meu inferno particular”, evitando um adeus ainda mais choroso ainda, os ouvi gritar num misto de felicidade e preocupação:

- Nós queremos que você tenha tudo que sempre quis, meu filho. Seja feliz. – berrou ela, me deixando com a cabeça cheia de interrogações. Queriam que eu fosse feliz. Mas como não é estranha a vida? São pequenos momentos que provam como somos importantes para quem tanto gostamos de nos ignorar, encarei a verdade crua.

De volta à realidade, com o pé na estrada, me deixei levar nessa fantasia do que eu seria daqui uns anos. Derrotado, vencido pelas dificuldades que me cercariam era uma coisa que não podia me acontecer. Eu tinha dezoito, olha só! Era crescido e dono do meu nariz, como gostava de dizer. De cabeça raspada, roupas na bagagem, muitos livros e minhas idéias de mudar o mundo, mudar a mim mesmo e mudar quem quisesse me mudar relaxei feliz na minha puberdade acabada, da barba mal feita, roupas chamativas, música barulhenta e namoradas descontentes.

Tudo à minha volta era motivo de risos. A capital do estado me esperava de braços abertos, como Cristo. Olhei a ponte com um sorriso nos lábios, observando o sol radiante adormecer na Baía, enquanto uma senhora no ônibus me encarava preocupada. Não liguei. Eu ia encontrar meu lugar no mundo, fazer a minha vida, morar onde o que estaria em vigor seriam as minhas leis.

A lei da toalha molhada foi a primeira a valer. Apesar de a mobília ser pouca, dando charme do vazio habitual e o cheiro de tinta recentemente seca, meu lar brilhava esplendoroso para mim, enquanto eu passei a distribuir meus “presentes”, como as cuecas, tênis e malas por ele.

Depois de um tempo, me acostumando com a rotina da faculdade, dos trotes, os professores, as garotas que dormiam comigo, tudo que me cercava foi me trazendo aos poucos o resto do que eu fui. Não era possível que alguém como eu poderia me perder tanto dentro de mim e me tornar algo tão distante dos dias sufocantes e perdidos em minhas idéias revolucionárias. Um dia eu estaria lá de volta, o naquele esburacado caminho, como meu coração havia se tornado quando saí de lá.

E nisso, num entardecer solitário, me peguei pensando se eu havia encontrado tudo que eu queria naquelas quatro paredes brancas vazias de cores e resplandecentes de solidão, falta de algo único como o sentimento de se sentir amado por alguém que daria tudo por você sem pedir em troca um sorriso, uma despedida chorosa, um pingo das suas lágrimas, porque sabia que isso te faria sofrer e a melhor maneira para se aprender qualquer coisa para essas pessoas tão insignificantes para você é deixar que a estrada tortuosa e esburacada da vida o faça cair mais uma vez, quebrar todos os ossos do rosto, e com ele encharcado de sangue e redenção, aprender que os que o amam também merecem ouvir um “eu te amo também.”

Pauta para o Bee Writer.

4 comentário:

Mari disse...

"os que amam também merecem ouvir um " eu te amo também ". Adorei essa parte, Tadeu.
Obrigada pela visita e pelo comentário.
até

Karoline Freitas disse...

Forte

manie disse...

que mané períodos londos o quê... o que sai do coração não tem que ser medido pelas regras da nossa língua. se joga no modernismo e arrasa çç

seu texto tá tão fofi, assim como todos os que você escreve com o coraçãozinho... quando eu me tornar escritora, vou agradecer em cada livrinho pela fofura que você me proporciona pelo simples fato de escrever coisas tão profundinhas.

seu eu lirico é você em muita coisa que você escreveu, não sei se em tudo... mas enfim, se você aceitar um amigo que chore horrores numa rodoviária em cada despedida, ME ADD AI FLW sempre manolo eh nois

sabe, você pode conviver com pessoas super intelectuais, que podem vomitar na sua cara de você falar que ouve rihanna ou que assistiu os últimos capitulos de Alma Gemea comigo no YouTube e riu muito, mas fodam-se eles. O que importa é sua essencia.

mano o mundo pode falar que o teu texto tá um cocô, amassar tuas matérias na sua frente e rir da sua cara, mas eu vou sempre amar cada linha que você escrever e minha opinião, DARLING, é a que IMPORTA...

você será (e já é) o maior jornalista desse mundo no meu coração. tem coisa mais honrosa do que isso?

a vida tem seus altos e baixos e as vezes a gente nao consegue unir tudo pra se considerar feliz. mas eu sei que de todo esse seu esforço vai nascer momentos felicíssimos (é assim q se escreve? ahahah) e fofis pra se viver...

você vai no meu casamento e eu vou no seu, e tenho dito.

nem sei pq eu escrevi tudo isso hahaha ficou enorme... dane-se, te amo demais meu irmaozinho e estarei sempre aqui, sambando (q nem santista) esperando pra te buscar na rodoviária com pompons...

manie disse...

londos UAHUAHAUA morri

longos***

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